segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

família.

bolachas de frutas cristalizadas
Tenho lido muitas crónicas acerca do Natal. Umas muitas boas e outras terrivelmente más. Há quem chegue mesmo a acusar os pais de continuar a incentivar a mentira que é a existência a do Pai Natal. Ora, por exemplo, a mim essa pequena mentira nunca me fez mal nenhum até porque, a certa altura, apercebi-me que o pai natal tinha duas formas, a de mãe e a de pai. Há tantas, tantas mentiras bem piores que os pais dizem aos filhos e dessas ninguém fala.
 
Adoro o Natal porque é a única altura do ano em que estou com a minha família toda. Durante dois dias, não existe absolutamente mais nada. Fazemos bolos, amassamos pão, aquecemo-nos à lareira e mimamo-nos uns aos outros. Há saudades misturadas com risos, abraços salpicados de farinha, filhoses amassadas com beijinhos. A cozinha pequenina torna-se gigantesca e todos fazem alguma coisa. Para quem possa pensar que somos uma multidão, é mentira. Somos seis: pais, irmãs e avó (sem contar com os gatos!). E é suficiente porque são estas as pessoas que durante todo o ano existem mesmo e não numa vaga forma de mensagem, telefonema ou e-mail ocasional.
 


bolachas de frutas cristalizadas

O Natal é também a altura em que, como adoro cozinhar, junto aqueles amigos que considero também família. Todos os anos penso num menú especial para lhes aquecer os coração e tornar aquele momento ainda mais especial. Contra ventos e tempestades, tenho tentado manter este pequeno ritual, mas há sempre barcos que, à falta de bússola, se perdem pelo caminho. Este ano ainda não pensei no menú, mas basta fechar os olhos e imaginá-los a chegar à casa farelo para surgirem ideias.
 
As minhas manas costumam pedir-me sempre para fazer umas bolachas com frutas cristalizadas. A receita não é minha, mas é já uma tradição de família. E, este ano quero partilhá-las convosco.
Aproveitem o Natal para estar com quem mais gostam e, tudo o resto é paisagem. E, contem connosco para adoçar o vosso Natal!
 

cf.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

a pensar no natal.

Tenho pensado muito no Natal. 

Tenho pensado na enorme quantidade de bolachinhas e biscoitos que gostava de fazer para aquecer o coração de mil pessoas. Se tivesse umas renas e um trenó, pedia a ajuda de alguns duendes e começava a espalhar magia. Sim, porque caso vocês não saibam, a cozinha do dom farelo fica numa casinha com uma chaminé com fumo sempre a sair, um telhado vermelho, muitas árvores à volta e com um vizinho de barbas longas e brancas.

De vez em quando, abro as janelas para espalhar o cheiro a biscoitos e lançar a magia das coisas boas no ar. O meu vizinho das barbas vem logo bater à porta e pergunta se pode lanchar comigo. Hoje troquei-lhe as voltas e, em vez de bolachas, fiz este delicioso pão de reis e rainhas. Gostou tanto que me fez prometer que lhe faria muitos para ele ir comendo durante a mais longa viagem do ano.
pão de reis e rainhas

Por isso, se quiserem que ele vos leve bolachinhas, biscoitos ou pão de reis e rainhas, mandem-me uma cartinha que eu depois peço-lhe a ele para as distribuir.

Boa semana,
cf

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

os domingos.

bolachinhas de banana desidratada e uvas passa
Nunca gostei dos domingos. 
Normalmente, quem me ouve dizer isto, ri-se, acha uma esquisitice e pergunta porquê. Bem, a verdade é que não é desde sempre. Quando eu tinha doze anos, a minha irmã mais velha arrumou as malas e rumou até à universidade. Ao início havia aquela alegria de ficarmos com um quarto maior, mas à medida que as semanas se iam repetindo, deixámos de pensar nisso. A sexta era maravilhosa porque não só significava que até segunda não havia escola, mas também deixava adivinhar um fim de semana em que tudo regressava ao normal. 
O almoço de domingo era recheado de coisas boas porque, a meu ver, era a única refeição da semana com um guloseima ( um bolo ou um pudim) para sobremesa. O que comíamos não variava muito entre a carne assada ou estufada, mas era diferente porque à semana não constavam no "menú". Não me consigo recordar se a minha irmã ficava em casa a estudar ou ia dar uma "voltinha" connosco, mas sei que o final da tarde trazia com ele uma angústia a crescer. 
Ver a minha irmã subir para o comboio, para voltar à sua rotina universitária, era tão triste. Havia sempre um pedaço de mim que ia com ela. A casa ficava com menos luz, preparávamos a mochila e tínhamos que ir para a cama cedo para regressar às aulas. E, em vez de alegria pelo começo de mais uma semana, havia melancolia.
Quando chegou a minha vez de ir para a universidade, pensei em como se sentiria a minha irmã mais nova ao ver-me partir todos os domingos. Para iludir o dia, torná-lo menos saudoso, comecei a trabalhar num clube de vídeo. Tinha aquela falsa impressão de que se não estivesse em casa, não sentiriam tanto a minha falta quando entrasse no comboio ou, eu própria disfarçaria o sentimento de anos passados.
Durante muitos anos, trabalhei aos fins de semana. Não me incomodava. Mas, ao mesmo tempo afastava-me de poder estar com os amigos que tinham sempre folga aos fins de semana. Então, voltei  a querer ter sábados e domingos! 
Ontem, fui passear com o N. Um verdadeiro passeio de domingo. Passámos o dia cheios de sono por acordar tão cedo, mas resistimos à chuva, ao frio e ao vento, por um bom dia, na companhia um do outro. Quando apanhámos o comboio, para cada um regressar aos seus destinos, sentei-me à janela a pensar que os domingos são dias curtos e que, quando há despedidas em comboios, ainda são mais curtos...
Para me vingar dessa sensação misturada de inverno, fiz estas bolachas de banana desidratada e uvas passa. São tãoooo boas! O conforto que trouxeram, juntamente com um chá, fez-me ter vontade de criar uma nova tradição para os domingos ao final do dia: fazer bolachas! Por isso, mesmo que haja comboios, despedidas ou domingos maus, passo a fazer bolachas!

Boa semana,
cf

domingo, 7 de outubro de 2012

guia-me, Carlota.

guia-me, Carlota, peço eu. 
com um sorriso nos lábios e uma emoção díficil de esconder, Carlota, aventura-se comigo, por uma cidade cheia de mudanças que não gosta. a tendência para falar  no antigamente aloja-se nos ossos de tal maneira, que se torna impossível observar as ruas sem o novo olhar que elas precisam. 
todos os dias, na nossa cidade ou vila, passamos por mulheres como a Carlota e não as vemos. sabemos que estão lá, que apontam para a nossa passada apressada de quem tem sempre mil coisas para fazer sem poder olhar para o que as rodeia, mas preferimos olhar para tudo o resto. não cedemos algum do nosso tempo para ouvir. são mulheres que conhecem os recantos todos da sua cidade, que nasceram nela, que sobrevivem nela, que não se cansam dela, e que acumulam cicatrizes de uma vida dura.
hoje, a Carlota é a protagonista do nosso encontro. confio nela para me guiar pela sua cidade. com uma cicatriz visível no pé, não abranda o passo porque se sente feliz por partilhar. ouço-a a falar da mãe, nunca do pai, da falta que ela lhe faz desde que partiu quando ela tinha dez anos. toco-lhe nas costas e sinto as lágrimas todas acumuladas, as que teve que esconder para sobreviver. "se a minha mãe ainda estivesse viva, nada disto me tinha acontecido", e eu sei que esta frase podia indicar o início ou o fim da sua história porque nela reside a esperança de um salvamento que nunca chegou a ser concretizado.
 
os seis filhos porque "meia dúzia é sempre melhor" são o retrato de um casamento que Carlota teve a coragem de pôr um ponto final. 28 anos a aguentar maus tratos. fico sem palavras, sem saber o que dizer porque qualquer capa de super herói que tentemos vestir torna-se singularmente ridícula face à coragem desta mulher. 
não sei o nome das ruas, interessa-me mais o que ela conta acerca delas. passamos por um túnel que ela prefere à vista da ribeira. "não tem interesse nenhum, mas eu gosto de passar aqui. ver e ser vista, entende?", sim, entendo, mas não entendo. há um barulho ensurdecedor dos carros a buzinar, uma poluição que se entranha na pele, uma espécie de demência momentânea. olho para ela e está a sorrir. às vezes sabe bem não nos ouvirmos, deixar baixar o som do nosso ruído interior.

vamos até à ribeira e fico encantada com a felicidade de a ver regressar à época em que com cinco/seis anos, vinha para o rio lavar a roupa e, para poder banhar-se nas águas, fingia que a roupa se afastava e tinha que nadar até ela. fala das peixeiras que ali vendiam e que foram trocadas por vendedores de artesanato, dos "tascos" que foram substituídos por esplanadas para turistas, das mercearias que vendiam arroz, açúcar às gramas. "agora é tudo em pacotes". e, para mim, isso diz tudo. 
encontramos a Joaquina a vender tremoços que não resisto a comprar, a Diana, amiga de longa data, a quem dou um abraço gigantesco, e seguimos de dedo em riste para o prédio onde ela nasceu. eram 20, mas só 7 ainda estão vivos. não há pausas para pensar muito, seguimos a falar das casas de penhores que também recebiam a "roupa de domingo" à segunda feira e depois voltavam a comprá-la à sexta para a voltar a usar no domingo. 
gosto de a ouvir, gosto do ritmo dela, de ser guiada por ela. pergunta-me se estou a gostar porque isso é muito importante. sim, muito.
a ana madureira tem este dom que não é muito comum, o de olhar atentamente para aquilo que a rodeia e levar os outros a olhar também. mas, principalmente de tornar estas pessoas em protagonistas das suas próprias histórias, com o orgulho daquilo que já viveram. poder partilhar de um bocadinho destas vidas, é um privilégio.
deixarmo-nos guiar pelos outros é um acto de generosidade, de baixar as nossas defesas e entrar por territórios desconhecidos. sentirmos a pele do outro, e as camadas que se escondem à espera de ser descobertas, é ser-se humano, conhecedor de uma geografia fundamental para o nosso crescimento. 
agora, fecha os olhos e deixa-te guiar.

cf

Para saber mais sobre este projecto maravilhoso da ana madureira, visitem:
guia-me!

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Coimbra, lado B.


Este fim de semana revivi o caminho de aveiro até coimbra, passando pela mesma estrada nacional que fiz vezes sem conta com o meu companheiro vilão. As memórias começaram a desfilar sem pedir permissão.


Durante muito tempo, só existia o lado A, ou seja, tudo o que circundava a universidade e a Praça da República. Depois, o tempo passou, levou-me a outras cidades e trouxe-me de volta para conhecer o lado B. 

Foi assim que aprendi a atravessar a linha de comboio que antigamente seguia até à Lousã, e a sentar-me nas cadeiras do Esquininha. Este café memorável, ficava, ora pois, numa esquina algures no Bairro Norton de Matos. Aí eram residentes habituais as senhoras das micro lareiras, cigarros que fumavam compulsivamente, dentro do café, numa tentativa de se aquecerem (diziam elas). Era também o local onde eu e o João, encontrávamos o Tó e o Daniel. Por vezes todos, outras vezes, só alguns. Comíamos tremoços, bebíamos finos ou favaítos, e ríamos. Sim, lembro-me de me rir muito e do riso deles que eram completamente contagiantes. Não me recordo das conversas, mas lembro-me dos vídeos que foram feitos lá. Parvoíces, mas daquelas parvoíces boas!

No lado B, morava também a Linda com a sua super gatinha Kitty. Sempre que conto a anedota do coelhinho lembro-me dela e das gargalhadas pela noite dentro. O apartamento nas águas furtadas, com as janelas perto do telhado onde se podiam imaginar mil gatos a passear para cortejar a Kitty. 
No fundo, acho que o lado de lá, marca uma passagem por coimbra adulta, mas ainda a tentar perceber em que direcção seguir.

Fiz estes biscoitos a pensar em Coimbra e, nem de propósito, a primeira pessoa a recebê-los é uma menina de cabelos encaracolados que também vive na cidade e gosta muito de gatos!

cf.,

terça-feira, 4 de setembro de 2012

O outono a chegar.

Dizem que o Outono se aproxima a passos lentos, muito lentos. O calor ainda nos faz desejar por uma sombra ou mais um mergulho no mar, mas aos poucos a campainha começa a tocar e há o regresso ao trabalho, às aulas, às noites mais curtas.

Bolachas de maçã desidratada e sabores de outono 
Para quase todas as pessoas que conheço o fim do verão é uma espécie de punição, de sacríficio doloroso com cachecóis, camisolas de lã, fins de tarde em casa a substituir a esplanada. Para mim, é o regresso ao conforto porque o Verão deixa-me desconfortável, sem saber como me sentar, a precisar de uma ventoinha enquanto os biscoitos não saem do forno. Uma das melhores recordações de Coimbra é passar num final de tarde de Outono, junto ao Botânico e observar as folhas cheias de cores nos passeios, na estrada, até chegarem aos meus pés.

Bolachas de maçã desidratada e sabores de outono 
Começo a pensar em chá com biscoitos, mas podiam também ser os scones da Maria Pirulito. Foi com ela que senti o Outono a entranhar-se nas minhas criações, enquanto bebíamos um chá e trocávamos ideias sobre lãs, biscoitos e compotas.  Provei uma compota deliciosa e fresquinha de pêra e hortelã, que faz as delícias de qualquer gulosa como eu! Falámos de novos projectos, já a pensar no frio, mas ainda estamos em fase de segredos!

Estas bolachas sabem já a Outono porque foi com esse sentimento no coração que as criei. A maçã desidratada é uma pequena iguaria que tem acompanhado todos os iogurtes aqui em casa. Em breve, também espero ter para vocês!

Bom regresso ao trabalho, à escola e não se esqueçam das bolachinhas para o lanche!



terça-feira, 7 de agosto de 2012

a grande cozinha do mundo.


Pim. Pam. Pum.
Rodrigo. Ana. Beatriz.
Foi por um triz!

A entrada na grande cozinha do mundo é ambicionada por todos mas fica ao alcance de alguns.

A laranja é letal. Ao mínimo corte da faca, o seu aroma espevita os sentidos mais adormecidos. É preciso ter tacto e é preciso ter olfacto. A laranja sabe o que vale e o Rodrigo sabe o que vale o ouro e a prata. A noite e o dia.

Rodrigo com as mãos na massa.
A avó não o deixa mentir e, lá do topo do mundo, ela sorri enquanto o ouve embevecida a amassar com toda a perícia.

Ana também entra na grande cozinha do mundo. Não importa o que está na mesa. O importante é o gengibre. Ninguém sabe de onde veio esta especiaria que nos faz mostrar os dentes só de pensar nela. O Bacalhau à Brás leva gengibre? Na grande cozinha da Ana sim.

Beatriz é curiosa como Alice e não resistiu ao biscoito de canela. Gosta de canela e pronto. Bastou uma trinquinha para encolher e passar para o outro lado do espelho.

Quando os três conhecidos chegaram à grande cozinha do mundo, encontraram três desconhecidos: André. Susana. Pedro. Zás. Trás. Pás.

O difícil é começar. Em apenas um instante, o grupo troca experiências e maçãs e passa a ser um sexteto. Cheira bem aqui. Maçã, gengibre, laranja e canela. O ovo dá luta mas o André não desiste. Pedro não percebe muito bem por que é que os outros cinco gostam tanto de estar na grande conzinha do mundo.

As estórias são batidas com vigor e polvilhadas pela canela da Beatriz. O tempo vai passando e, à nossa volta, a grande cozinha do mundo é já pequena para tantos amigos que vêm daqui e dali.


Um obrigado ao Rodrigo, à Ana, à Beatriz, ao André, ao Pedro e à Susana, por fazerem parte de mais um capítulo da(s) estória(s) do Dom Farelo.
jvaz

um biscoito para são vicente.



Quando não há palavras amassam-se as estórias com o coração. Despem-se as mãos do acessório para restar apenas o essencial. Qual será o ingrediente especial?

A farinha é quase sempre a primeira convidada. Depois chegam os ovos e o açúcar.

Nil a dar forma a um biscoito avião
As nove meninas e o menino de limão instalam-se na cozinha em forma de igreja. São Vicente não é mais do que um glutão que apenas pensa num biscoitão. Desta vez, a sua pena é feita de pau e serve para dosear e aconchegar o açúcar que tomba descontraído no alguidar.

Um bom biscoito não precisa de ser muito doce. Doce é o olhar de quem absorve com paixão todos os detalhes, todas as palavrinhas.

Regresso às nove meninas e ao menino de limão que só têm uma missão: um biscoito para São Vicente. Neste momento, o santo enche de murmúrios as paredes da cozinha em forma de igreja.

Como pode a canela vencer o leite condensado? O duelo será mortal até à reconciliação final.

Aos poucos, as meninas que guardavam o sorriso soltam gargalhadas animadas nas tigelas coloridas que teimam em esconder o segredo do melhor biscoito para São Vicente.

A cozinha em forma de igreja é um espaço mágico onde o traço d'ana ilustra o milagre da cumplicidade dos gestos soltos. O menino de limão grita “aleluia, aleluia”! É o sinal. A maçã vaidosa com a estrela no meio vai namorar com o kiwi verdinho e peludo. A estória é de amor.

O amor é sempre o ingrediente secreto das nove meninas e do menino de limão. Pode ser a mãe, o namorado ou a educadora que também é a confidente. Todas são... São Vicente pois cada uma tem o seu Vicente no coração. E o melhor biscoito do mundo nasce assim. Uma e outra vez.

Um obrigado ao Nil, à Ana, à Rita, à Sarah, à Cláudia, à Neide, à Sofia, à Andreia e à Vanessa por fazerem parte de mais um capítulo da(s) estória(s) do Dom Farelo.

jvaz

sexta-feira, 20 de julho de 2012

noiserv.

Há músicas que de tão bonitas, tão bonitas, tão bonitas, nos fazem sonhar. Quando estou acordada posso divagar no meio dos meus sonhos e criar a partir deles. A liberdade total e completa, sem compromissos ou amarras, é possível durante 4:46 ou um álbum inteiro. Enrolo-me em fios invisíveis que me levam a sentar no topo da montanha depois de uma longa caminhada, a sentar em frente ao mar a sentir os salpicos da água salgada na cara, a mergulhar nas águas do nosso "canadá", a conduzir pelo verão fora com uma única mochila no banco de trás,...
Como não quero regressar, ouço as mesmas músicas vezes sem conta e penso em piqueniques debaixo de árvores grandes, em pés descalços, cerejas e um bolo! Abro os armários e, como não vou descalçar as sapatilhas, subo ao banco e começo a soltar ingredientes. Cheira-me a baunilha, a chocolate, a blueberries! Costumo transformar as minhas ideias em biscoitos, mas hoje apetece-me mesmo uma fatia de bolo.
Para quem está em casa a trabalhar, a ver o sol lá fora, sem molhar os pés, sugiro Noiserv e uma fatia deste bolo que está quase a sair  do forno: red velvet cake with blueberries!

cf

sábado, 7 de julho de 2012

o Arraial.

Suspiros de Morango
Ser-se dada a possibilidade de viver um sonho é algo único e mágico. Ontem foi o meu momento. Depois de me sentar na cadeira, no campo de jogos de Donim, em Guimarães, para ver o Arraial , o novo espectáculo da Circolando, começou a minha viagem. É quase difícil transcrever em palavras aquilo que senti, a quantidade de sorrisos que esbocei, a semi inveja por não ser eu a ter esta ideia maravilhosa. 
Durante duas horas, que não se sentem, viajei pelo imaginário rural das festas da aldeia, do Arraial. Com receio de acordar, observava aqueles corpos a modelarem-se pelo espaço, com folhas de couve na cabeça, com figuras de cera, com motorizadas a ronronar à volta do palco, com véus longos, com a magnífica música dos Dead Combo.
A felicidade que saía do palco, contagiava-me a mim e a todos os habitantes de Donim que riam, que apontavam para quem conheciam no palco, que acalmavam crianças a dizer que era só teatro. Mas, para mim, foi muito mais. Foi regressar à paróquia, à catequese, às procissões, às festas cheias de luzes onde os homens se encostavam ao bar e as mulheres se reuniam, sentadas a falar das suas vidas e dos seus filhos, ao cheiro das pipocas que nem sempre podia comer, ao momento em que víamos aquele rapaz por quem o coração batia mais descompassadamente.
Ter a oportunidade de ver um espectáculo assim, é um privilégio. Enquanto estamos ali, julgamos fazer parte de uma outra realidade, de um sonho com raízes que, à medida que crescemos, queremos prolongar. 
Desde que deixei de ir à festa da vila agarrada às mãos dos meus pais, a minha mãe traz-me sempre um doce que faz terrivelmente mal, mas que sabe tãaaao bem: suspiros!
A pensar em todos estes momentos, criei a minha própria versão: suspiros de morango. E são maravilhosos. Se fechar os olhos, enquanto trinco um, regresso ao Arraial.


terça-feira, 26 de junho de 2012

bolachas de ananás e côco


sol.

Depois de dias infindáveis a queixar-me da chuva, de viver na cidade do país onde mais pinga, de parecer inverno... veio o SOL! A Haruki rebola-se na varanda, enquanto a Bruzzi deitada na sua cama a observa, como se dissesse que era ela que devia estar a fazer isso. Não sei como é que elas suportam o calor! Eu refugio-me dentro de casa e quando saio, pego na bicicleta para ir, velozmente, a todo o lado. Claro que, enquanto pedalo, tenho que pensar na água fresca que vou beber ou nos sítios climatizados onde vou estar. É horrível dizer isto, eu sei. 
Bolachas de ananás e côco

Nesta cidade, o verão chega juntamente com os incêndios. O ar fica saturado de nuvens negras e de um cheiro a queimado. E, em segundos, volto a desejar que seja outono. Mas, depois olho para as minhas gatas, observo o sorriso das pessoas na rua com os óculos de sol, ouço os míudos do prédio em frente a jogar futebol, vejo os piqueniques no parque e, devagar, vem aquele cheiro a praia, o som das ondas e a vontade de longos banhos no mar!

A Bruzzi tem precisado de muita atenção e, por isso, só hoje me dediquei a criar mais uma bolacha nova. Hoje, pensei em mim, no que me apetecia petiscar mais ao final da noite, na varanda, com um favaios bem fresquinho,  na companhia das míudas e do flz. E, dessa ideia, surgiram estas bolachinhas de ananás e côco. Tão boas!

Vamos à praia?

cf



domingo, 10 de junho de 2012

a Bruzzi precisa de amigos

Eu sou a Bruzzi, gosto de miar e passear na varanda. Esta semana tive um acidente que me levou à mesa de operações. Peço-vos que me ajudem a angariar alguns euros para pagar ao simpático veterinário. As bolachinhas feitas em minha honra pelo Dom Farelo são de canela e gengibre e são deliciosas. Conto convosco para voltar a saltitar pela casa como dantes! Um grande miau para vocês.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

vizinhos.

bolachinhas de mel, nozes e avelãs
Quando morava com os meus pais, conhecia todos os meus vizinhos e eles conheciam-me a mim. Havia uma sensação de familiaridade sempre que estava na rua, como se nunca estivesse sozinha. Nunca mais voltei a ter essa sensação, em qualquer uma das cidades, por onde passei.
Gosto de conhecer os meus vizinhos mas não tenho qualquer tipo de ilusão. As pessoas estão demasiado preocupadas com a sua própria vida para criar qualquer tipo de relacionamento. Até eu sou assim, por isso não posso condenar ninguém.
Actualmente, no prédio onde vivo, conheço dois ou três vizinhos. Não sei os seus nomes, mas vejo-os no elevador ou à porta do prédio e trocamos cumprimentos ou breves sorrisos. Este fim de semana, fui apanhar cerejas para a zona dos pais do flz. Quando regressei, fui deixar algumas cerejas à nossa amiga Maria Pirulito para fazer uma compota. Como a conversa é como as cerejas, saímos de lá já  a noite ia longa. Ao chegar a casa, havia um aviso no elevador a dizer que uma gata tinha caído e precisava de ir ao veterinário. Fixei o andar onde estava e tentei controlar o pânico de imaginar que poderia ser uma das minhas gatas...
Ao entrar em casa, o pior confirmou-se quando só uma me veio receber. Com o coração a mil, envergonhada pela hora tardia, não consegui deixar de ir bater aquela porta. Os meus vizinhos receberam-me e a minha pequenina estava encostada a um canto. Eles, muito simpáticos, ligaram-lhe a patinha que tinha ficado ferida e contaram-me que a mãe a tinha encontrado à porta. Sem nos conhecerem, eles fizeram mais por nós, pela nossa gatinha, do que muitas pessoas que estão perto e que nos conhecem.
Fico muito feliz por saber que, no meio de tantas pessoas, existe alguém com um coração tão grande. Por isso, fiz estas bolachinhas para eles, para lhes agradecer do fundo do coração por terem cuidado da Bruzzi.

cf.,

quinta-feira, 17 de maio de 2012

mini chesecakes de limão

feitas com a compota de limão da mariapirulito

sardinhas de tomate seco e alcaparras



lu.

Quando a conheci eramos adolescentes e, como todos, sonhávamos que o mundo ia ser nosso. Ríamos muito de tudo e de nada, fazíamos férias juntas armadas em sereias na costa alentejana e, partilhávamos segredos. O homem ideal seria desta, daquela e da outra maneira e nunca nos cansávamos de o reescrever, redesenhar e reidealizar, à medida que íamos crescendo.

biscoitos para brincar e comer!
A universidade plantou-nos em cidades diferentes mas não quebrou a nossa cumplicidade. Sempre que podíamos, saltávamos para dentro de autocarros e comboios para partilhar as surpresas que a vida nos ia trazendo. De mochila às costas, foi com ela que fiz a minha primeira viagem para fora do país. Senti-me grande, com uma vontade enorme de abraçar o resto do mundo e conhecer cidades que até então não estavam sequer no meu mapa. Falávamos de tudo e de nada, sem perder o sentido de humor nos momentos piores porque nos tínhamos uma à outra.

Por uma parvoíce, perdemos o contacto. E durante muito tempo, as palavras deixaram de existir, assim como os recantos para partilhar. Um dia acordei e senti um vazio enorme, uma angústia que não conseguia explicar. Fiquei na cama a olhar para o telemóvel porque sabia que precisava de a ouvir. Mandei-lhe uma mensagem e esperei. Algum tempo depois, plim, as palavras chegavam. Ela ainda estava do outro lado. E isso deu-me uma felicidade pequenina e ao, mesmo tempo, imensa.

Agora, ela vai ser mãe. E eu mal posso esperar por ver aquela barriguinha redondinha. Quero ver chegar aquele/a balança e contar-lhe as mil coisas que eu e a mãe dele/a fazíamos.

O Santo António está a chegar e, com ele, as sardinhas e as saudades dessa cidade. Por isso, hei-de ir ver-te, abraçar-te e dizer-te que estes biscoitos que fiz hoje foram a pensar em ti.

cf

sexta-feira, 27 de abril de 2012

mãe.

Coroas de Cranberries e Chila
A minha mãe é a melhor do mundo. É, porque é a minha. Olho para as flores que tenho na jarra, em cima da mesa e fecho os olhos por um segundo. Cheiram à Quinta Faísco, à terra cultivada, às árvores de fruto que começam a dar flor, aos morangos, a casa...

Quando andava na primária, eram os meus avós que me levavam para o campo, para poder sujar as mãos e os pés na terra. Hoje, sempre que regresso a casa dos meus pais, a minha mãe faz-me sempre uma visita guiada pelas suas pequenas maravilhas. A minha mãe não é agricultora, mas adora a liberdade que aquele pedaço de terra lhe dá. Enquanto tira as ervas daninhas, apanha espinafres ou planta um novo legume, o seu companheiro matateu, rebola-se pela terra, sobe às arvores, sem nunca a perder de vista. Adoro ver a tranquilidade e o sorriso, no rosto dela, enquanto me mostra tudo.

A minha mãe tem um coração tão grande, tão grande, tão grande, que ficaria rapidamente cansada se tivesse que escrever de acordo com a sua dimensão! E é nesse coração que eu e as minha manas estamos todos os dias porque, independemente da idade, a minha mãe não adormece sem saber se estamos todas bem!

Há mães por escolha, outras por dedicação, outras por afeto, outras porque sim. Conheci já muitas mães e todas são bastante diferentes e todas tão iguais! Há uma que gostava muito de ter conhecido por ter sido uma mãe tão carinhosa, capaz de levar um copo de leite à escola para o filhote beber no intervalo, mas, infelizmente, já não cheguei a tempo. Era a Mira.
Por isso, mãezinha, partilho estas bolachinhas contigo e com as outras mães que enchem o nosso coração todos os dias e mesmo não estando presentes, vão sempre ser recordadas. Obrigada por existirem: Maria Isabel, Maria Manuela, Mira, Sónia, Leonor, Isabel, Xana, Teresa, Viviana, Salete, Albertina, Maria dos Anjos,...

segunda-feira, 16 de abril de 2012

o quarto no sotão.

Sentei-me à secretária, que partilhava com a mjo, e decidi-me a desenhar o quarto perfeito. Não sei que idade teria mas recordo-me perfeitamente da convicção com que o fiz. Desde muito cedo que me habituara a partilhar o quarto com a mjo e, embora ela fosse a minha parceira de brincadeiras, sonhava com um sítio só para mim. Claro que o sótão, sítio onde os meus pais só nos deixavam visitar sob a sua supervisão, era o local perfeito para mim. Desenhei as escadas que partiam do quarto partilhado para o maravilhoso mundo novo. Havia só um tapete pequenino e com franjas, mesmo ao lado da cama, que seria pequenina porque, na minha ideia, as camas grandes só as podíamos ter quando nos casássemos. Uma pequena estante com uns livros arrumados e outros no chão, só porque ali podia ter as coisas como queria e uma secretária para poder escrever e fazer os meus desenhos. Acima de mim, só as estrelas e uma alegria gigante por não ter ninguém a chatear-me.
Guardei esse desenho até hoje. Na altura, escondia-o dentro do meu diário (cheirava tão bem!), para que ninguém soubesse que, secretamente acalentava esse sonho. Esperava que o adivinhassem... O quarto no sótão nunca se chegou a concretizar e a primeira vez que tive um quarto só para mim foi quando fui para a universidade. Podia ter respirado de alívio, mas não. As primeiras noites foram terríveis. Faltava uma cama ao lado da minha, alguém com quem partilhava as minhas histórias já com a luz apagada. Mas esse segredo também o guardei, estoicamente, só para mim...!

Às vezes sonhamos com coisas que, de tanto as querermos, nos parecem facilmente concretizáveis. Andamos dias, meses, anos, a desejar isso. E, na maior parte das situações, quando finalmente conseguimos, apercebemo-nos que afinal o sonho quando se materializa pode sair ligeiramente retorcido. Mas, correndo o risco dos clichés, vou espalhar estas estrelas que fiz, para que, pelo menos um, sonho de uma criança seja concretizado.

Bons sonhos!


cf

P.s - Por causa destas fotografias, o flz está sentado na sala a ler a banda desenhada do bolinha!

domingo, 8 de abril de 2012

joy, the baker e aquilo que temos no frigorífico

bolachinhas de abóbora e sementes de papoila e frésias da quinta Faísco
Há uns tempos, no meio de ligações que vão dar a outra tantas ligações, encontrei a Joy, the baker. O primeiro impacto é visual porque as fotografias são realmente deliciosas. Mas, depois de passar esta longa fase que nos abre o apetite mil vezes, comecei a ler os texto que ela publicava juntamente com as receitas. São simples e ilustrativos do seu quotidiano. E, só isso, é o suficiente para me deixar deliciada. Aprecio as palavras simples, as pequenas surpresas do dia a dia, as memórias, o cheiro da fruta, a surpresa de uma receita acabada de criar... E esse é também o mundo da Joy. Claro que não nos comparo. Ainda tenho que criar muitas outras receitas até chegar aquele patamar mas, ao ver o site dela fico com vontade de pôr as mãos na massa!

E, foi depois de uma dessas visitas, que decidi criar umas deliciosas bolachinhas de abóbora e sementes de papoila. Sei que a época da abóbora já passou mas, como ainda tinha alguma congelada, decidi aproveitá-la para dar um sabor diferente a estas bolachas. Ás vezes perguntam-me, seja com os doces ou com os salgados, o que é que hão-de cozinhar. A minha pergunta é sempre a mesma: o que é que tens em casa? Acho que devemos utilizar os recursos que temos em vez de procurar nos supermercados uma resposta para as nossas preces culinárias. Em casa dos meus pais fui habituada a fazer as minhas experiências com o que tinha e isso criou em mim o sentido da invenção.

bolachinhas de abóbora e sementes de papoila
Em nossa casa, o flz fica sempre admirado como é que eu consigo fazer algo tão bom, depois de ele ter olhado para o frigorífico duas vezes e não ter encontrado nada. Um pouco de magia e imaginação e, voilá!
Estas bolachinhas são para gulosos que gostem de experimentar sabores novos e não têm medo de arriscar! Por isso, o meu desafio para vocês, para esta semana é: olhem para o vosso frigorífico/ despensa e façam magia!

Boa semana!


cf

domingo, 1 de abril de 2012

cat farelli e ana madureira

partilhar.

A banca do dom farelo
Ontem foi dia d'O Mercado. Durante um dia e uma noite, eu e a X., estivemos na cozinha, envolvidas em farinha. Pacientemente, preparávamos as iguarias que íamos levar para partilhar com os visitantes do mercado. Sempre a pensar que não era suficiente, tentei adequar as quantidades para mostrar e dar a provar a pessoas que não conhecia.
Maria Pirulito
Amassei pão de chocolate e laranja, pão de farelo de trigo, pão de trigo e umas broínhas de centeio, arroz e agave. Dei forma a borboletas, gatos, corações... Derreti chocolate, cortei fruta,...Pausa. Quando comecei a preparar as cestinhas, já a noite ia longa. Não sei onde vamos buscar força e resistência para continuar, mesmo depois das costas se queixarem, as mãos ficarem vermelhas e duas ou três queimaduras. A felicidade de fazermos aquilo que gostamos, dá-nos uma energia que julgamos não ter. E isso, é maravilhosamente bom e surpreendente.
N'O Mercado conhecemos pessoas fantásticas, com projectos muito interessantes. A nossa vizinha, Maria Pirulito, tinha umas compotas deliciosas e umas maçãs do amor tão, tão, tão boas que não resisti a trazer uma para o flz. Deixem que a vossa curiosidade vos leve até ela porque aquela banca deixava qualquer um maravilhado.
cat farelli e X.
 Tivemos a oportunidade de conhecer alguns amigos que só tinham trocado palavras connosco através do Facebook. Dar a provar as nossas iguarias e observar, lentamente, o sorriso que se abria no rosto da pessoa. É simplesmente maravilhoso poder partilhar o dom farelo com vocês. Saber que as nossas bolachinhas e biscoitos transportam um pouco do nosso calor, da nossa vontade de tocar nos outros e contar histórias através destas receitas que vou criando.


Obrigada e, vemo-nos por aí!

quarta-feira, 21 de março de 2012

bolachinhas de alperce com crosta de amêndoa e noz

aprender.

A minha mãe recorda-me muitas vezes que eu era uma criança muito activa. Aliás, no primeiro dia de escola, felicíssima com a ideia de ir aprender coisas novas, não conseguia parar quieta na cadeira. A professora, lançou-me um olhar mortal e numa voz ríspida disse-me que devia ter bicho carpinteiro. Não sabia o que era mas, senti pelo tom, que não devia ser coisa boa. Naquele momento, percebi que a escola não ia ser como eu tinha pensado...
Bolachinhas de alperce com crosta de amêndoa e noz
Na escola primária aprendi que alguns são tratados por diminutivos, significando isso que são os preferidos da professora, e que os outros são apenas a manuela, o joão e o antónio. Por isso, quando passei para o ciclo, fiquei muito feliz por ter tantos professores. Recordo-me de uma das minhas professoras de inglês que, de tanto insistir com os verbos, fez com que, ainda hoje, não haja um verbo que não saiba. Recordo-me da ignorância de uma professora de português que me envergonhou, em frente a toda a turma, porque não dizia "vou para as -j'aulas-" como eles, bairradinos de gema.
O secundário passou totalmente em branco. Acho incrível estarmos tantos anos numa escola, e não haver um único professor que nos marque. Aquele professor que nós admiramos e que nos dá vontade de correr e desbravar o mundo. Nada. Zero. 
Precisei chegar à universidade para aprender. Numa cidade que não conhecia, encontrei uma biblioteca com imeeeeensos livros que me apetecia sempre levar para casa. Na primeira aula do jaf, conheci uma das pessoas mais importantes da minha vida: o jv. O jaf  interessou-se por nós, pelo que nós fazíamos e gostávamos e, não se limitou a ser um professor que debitava matéria. Ele ensinou-me a gostar de aprender, de ouvir e mostrou-nos outros caminhos para lá dos muros da universidade.
Há cerca de dois anos, mudei de cidade e resolvi regressar à universidade para fazer um mestrado. O entusiasmo inicial por estar a fazer algo diferente, rapidamente foi substituído pelo desânimo de não ser nada do que pensava. Mas, felizmente, tudo mudou quando conheci a F. Conhecer um professor que dá aulas com paixão, a acreditar nas palavras que diz, é um mundo inteiramente novo. Com ela, aprendi que também consigo escrever palavras no palco e principalmente que, se tivermos quem acredite em nós, como ela sempre fez comigo, conseguimos tudo.
Aprender não é só ir para a escola. É ter o privilégio de ter professores que gostam daquilo que fazem e ainda conseguem ver os alunos como pessoas que podem influenciar de uma forma positiva. Aprender é também ouvir as pessoas certas porque as outras...bem, as outras são as outras.
Estas pequenas delícias fiz especialmente para a F., por toda a força que me tem dado e por tudo o que me deu a aprender.

segunda-feira, 19 de março de 2012

ana.

Bolachinhas de nozes e canela - sem glúten
Conheci a ana em frente às escadas monumentais, em Coimbra. Recordo-me que era inverno porque ela trazia um gorro rosa. O Jv ia comigo e apresentou-nos. Falámos sobre uma peça que eu e o Jv tínhamos apresentado há pouco tempo e do interesse que tínhamos em "fazer teatro".
Quando nos despedimos, a ana seguiu o seu caminho e nós ficámos a pensar que queríamos tê-la envolvida no nosso próximo projecto.
"A pequena Bonnie", foi uma das peças que mais gostei de fazer até hoje. Eu e a ana, dividíamos o papel de Tina, uma romântica apaixonada por Doménico. Divertimo-nos tanto que, passados mais de dez anos, ainda consideramos voltar para cima do palco para apresentar a peça.

Depois de Coimbra, seguimos caminhos diferentes. Ela viajou para um lado e eu viajei para o outro. Mas, durante estes anos todos nunca perdemos o contacto. Há pessoas que simplesmente ficam no nosso coração a vida toda.
Há uns anos, de passagem por Lisboa, a ana visitou-me e deixou-me um pequeno desenho. Coloquei-o no meu frigorífico. Já mudei muitas vezes de cidade, casa e frigorífico, mas o desenho está sempre no frigorífico como uma fotografia dela.

A nova imagem do dom farelo, é dela. Desenhou-o para nós porque gosta dos nossos biscoitinhos e nós gostamos dos desenhos dela. Por isso, este lanche que preparei, é para ela. Nada de trigo! Nada de açúcar! Farinha de arroz com agave, nozes e canela, para a minha  Amiga! Amanhã segue pelo correio, com muitos abraços e beijinhos e uma vontade muito grande de te ter na minha cozinha.