sábado, 2 de março de 2013

viajar.



bolachas de pistachio e sementes de sésamo
adoro viajar. não interessa a duração porque há qualquer coisa na simples partida, que me traz uma emoção tão forte que faz saltar o brilho no meu olhar. ouço dizer muitas vezes: "pareces uma pessoa completamente diferente!". E a verdade, é que realmente me sinto outra pessoa. o quotidiano desaparece por debaixo da porte e a única coisa que permanece no meu bolso é a chave, para me recordar que tenho que regressar.

na semana passada viajei até Istambul, a cidade que alberga mil gatos que se passeiam pelo jardim, completamente indiferentes a quem para eles olha, sem sequer se sentirem ameaçados com tantas fotografias. caminhar por istambul é respirar uma tão grande massa humana que, a certa altura, desconfiamos de quem somos. serei turca? e, num instante, como o que eles comem, bebo o que eles bebem e fecho os olhos a imaginar quem seria se tivesse nascido naquela cidade. 
o sol que agraciou a viagem, as apetitosas especiarias, os deliciosos doces com pistachio, despertaram em mim a vontade de regressar por uns instantes à cozinha e preparar umas bolachas com sabor a este lugar.


bolachas de pistachio e sementes de sésamo
como já tinha prometido à minha amiga L. uma receita para o seu fabuloso "Receita para Tudo", quando voltei para as minhas gatas, criei estas fabulosas bolachas salgadas de pistachio e sementes de sésamo. para os que ainda não visitaram podem começar por experimentar a minha versão de sabores de Istambul.
Para os que querem aventurar-se, numa iniciativa inédita, a receita será publicada no "Receita para Tudo".


boa semana, 
cf

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

corações para todos.


No dia dos namorados o verbo que mais se utiliza é: dar. Não sou contra o verbo, mas confesso que não aprecio a utilização que dele se faz.

dar significa muito mais do que um simples acto. Sei que todos nós temos os nossos próprios dicionários, com definições apropriadas a cada momento da nossa vida, mas há verbos que deveriam ser universais, sem adendas, sem lugar para outras interpretações.

bolachas de morango e moscatel
dar significa ser humilde o suficiente para entregarmos ao outro uma pequena parte de nós. Embora haja sempre uma pequena parte de nós que permanece de uma forma egoísta, totalmente agarrada a nós, a outra devia estar disponível para ser lida, relida e apreciada.

dar significa ter tempo para pensar no outro. Dizem-me sempre que o tempo é curto e que os quiosques do metro, do autocarro, do aerorporto, ou um gigantesco shopping, são sítios maravilhosos para despachar um qualquer presente que evite uma má cara.

dar significa ouvir. Passamos o dia embrulhados em sons de telemóveis, telefones, buzinas, carros, elevadores, rádios, mp3, e o ouvido acostuma-se a ignorar ou a filtrar. Então, quando devíamos estar disponíveis para ouvir realmente os que mais gostamos, o ouvido, está, muitas vezes, desligado, selectivo ou a dormir.

bolachas de morango e moscatel
dar significa aceitar a diferença. A certeza de que estamos tão correctos torna-nos inflexíveis e, com os muitos argumentos que arrumamos diariamente na nossa mente, tentamos obrigar os outros a ser como nós.

A minha sugestão para o dia que se aproxima é dar! E enquanto estamos a dar tudo isto, sugiro que saboreiem estas deliciosas bolachas de morango e moscatel com a vossa cara metade!

corações para todos.

cf.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

um ano.

bolachas com recheio de kiwi melado
 
Há cerca de um ano estava a virar a minha vida do avesso. E no meio das mudanças, surgiu um projecto delicioso que me tem trazido mil sorrisos e uma vontade imensa de continuar a criar biscoitos, bolachas e pão.
 
Através do dom farelo tive a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas que, através das maravilhas da cozinha, salpicavam os outros com criatividade e, sobretudo, muito amor. Aprendi que a cozinha é, definitivamente, um lugar de paz onde não se deve entrar com mau humor, nem fazer o que quer que seja por obrigação. Mesmo quando as costas diziam que já não podiam mais, me queriam forçar a largar o rolo da massa, o cheiro que vinha do forno e o prazer que se consegue proporcionar aos outros, acabavam por superar tudo.

bolachas com recheio de kiwi melado
 
Num ano, voltei a rever amigos que decidiram provar as nossas bolachas, amigos que através das bolachas ajudaram a Bruzzi, amigos que visitaram a nossa cozinha,amigos muito pequeninos que mesmo com poucos dentes começaram a trincar as bolachinhas, amigos que ,mesmo morando noutros países, não deixaram de nos acompanhar, amigos que passavam para dizer olá e saborerar pão nos mercados onde íamos, amigos que nos convidaram a partilhar a arte dos biscoitos através de workshops...tantos amigos e tão bons!
 
2012 foi um ano feliz, graças a vocês todos! Fiz estas bolachas com recheio de kiwi melado a pensar em vocês! E, para aqueles que pensam não gostar de kiwi... bem, mesmo os que não gostam, não têm conseguido resistir.
 
Obrigada!
 
cf.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

família.

bolachas de frutas cristalizadas
Tenho lido muitas crónicas acerca do Natal. Umas muitas boas e outras terrivelmente más. Há quem chegue mesmo a acusar os pais de continuar a incentivar a mentira que é a existência a do Pai Natal. Ora, por exemplo, a mim essa pequena mentira nunca me fez mal nenhum até porque, a certa altura, apercebi-me que o pai natal tinha duas formas, a de mãe e a de pai. Há tantas, tantas mentiras bem piores que os pais dizem aos filhos e dessas ninguém fala.
 
Adoro o Natal porque é a única altura do ano em que estou com a minha família toda. Durante dois dias, não existe absolutamente mais nada. Fazemos bolos, amassamos pão, aquecemo-nos à lareira e mimamo-nos uns aos outros. Há saudades misturadas com risos, abraços salpicados de farinha, filhoses amassadas com beijinhos. A cozinha pequenina torna-se gigantesca e todos fazem alguma coisa. Para quem possa pensar que somos uma multidão, é mentira. Somos seis: pais, irmãs e avó (sem contar com os gatos!). E é suficiente porque são estas as pessoas que durante todo o ano existem mesmo e não numa vaga forma de mensagem, telefonema ou e-mail ocasional.
 


bolachas de frutas cristalizadas

O Natal é também a altura em que, como adoro cozinhar, junto aqueles amigos que considero também família. Todos os anos penso num menú especial para lhes aquecer os coração e tornar aquele momento ainda mais especial. Contra ventos e tempestades, tenho tentado manter este pequeno ritual, mas há sempre barcos que, à falta de bússola, se perdem pelo caminho. Este ano ainda não pensei no menú, mas basta fechar os olhos e imaginá-los a chegar à casa farelo para surgirem ideias.
 
As minhas manas costumam pedir-me sempre para fazer umas bolachas com frutas cristalizadas. A receita não é minha, mas é já uma tradição de família. E, este ano quero partilhá-las convosco.
Aproveitem o Natal para estar com quem mais gostam e, tudo o resto é paisagem. E, contem connosco para adoçar o vosso Natal!
 

cf.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

a pensar no natal.

Tenho pensado muito no Natal. 

Tenho pensado na enorme quantidade de bolachinhas e biscoitos que gostava de fazer para aquecer o coração de mil pessoas. Se tivesse umas renas e um trenó, pedia a ajuda de alguns duendes e começava a espalhar magia. Sim, porque caso vocês não saibam, a cozinha do dom farelo fica numa casinha com uma chaminé com fumo sempre a sair, um telhado vermelho, muitas árvores à volta e com um vizinho de barbas longas e brancas.

De vez em quando, abro as janelas para espalhar o cheiro a biscoitos e lançar a magia das coisas boas no ar. O meu vizinho das barbas vem logo bater à porta e pergunta se pode lanchar comigo. Hoje troquei-lhe as voltas e, em vez de bolachas, fiz este delicioso pão de reis e rainhas. Gostou tanto que me fez prometer que lhe faria muitos para ele ir comendo durante a mais longa viagem do ano.
pão de reis e rainhas

Por isso, se quiserem que ele vos leve bolachinhas, biscoitos ou pão de reis e rainhas, mandem-me uma cartinha que eu depois peço-lhe a ele para as distribuir.

Boa semana,
cf

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

os domingos.

bolachinhas de banana desidratada e uvas passa
Nunca gostei dos domingos. 
Normalmente, quem me ouve dizer isto, ri-se, acha uma esquisitice e pergunta porquê. Bem, a verdade é que não é desde sempre. Quando eu tinha doze anos, a minha irmã mais velha arrumou as malas e rumou até à universidade. Ao início havia aquela alegria de ficarmos com um quarto maior, mas à medida que as semanas se iam repetindo, deixámos de pensar nisso. A sexta era maravilhosa porque não só significava que até segunda não havia escola, mas também deixava adivinhar um fim de semana em que tudo regressava ao normal. 
O almoço de domingo era recheado de coisas boas porque, a meu ver, era a única refeição da semana com um guloseima ( um bolo ou um pudim) para sobremesa. O que comíamos não variava muito entre a carne assada ou estufada, mas era diferente porque à semana não constavam no "menú". Não me consigo recordar se a minha irmã ficava em casa a estudar ou ia dar uma "voltinha" connosco, mas sei que o final da tarde trazia com ele uma angústia a crescer. 
Ver a minha irmã subir para o comboio, para voltar à sua rotina universitária, era tão triste. Havia sempre um pedaço de mim que ia com ela. A casa ficava com menos luz, preparávamos a mochila e tínhamos que ir para a cama cedo para regressar às aulas. E, em vez de alegria pelo começo de mais uma semana, havia melancolia.
Quando chegou a minha vez de ir para a universidade, pensei em como se sentiria a minha irmã mais nova ao ver-me partir todos os domingos. Para iludir o dia, torná-lo menos saudoso, comecei a trabalhar num clube de vídeo. Tinha aquela falsa impressão de que se não estivesse em casa, não sentiriam tanto a minha falta quando entrasse no comboio ou, eu própria disfarçaria o sentimento de anos passados.
Durante muitos anos, trabalhei aos fins de semana. Não me incomodava. Mas, ao mesmo tempo afastava-me de poder estar com os amigos que tinham sempre folga aos fins de semana. Então, voltei  a querer ter sábados e domingos! 
Ontem, fui passear com o N. Um verdadeiro passeio de domingo. Passámos o dia cheios de sono por acordar tão cedo, mas resistimos à chuva, ao frio e ao vento, por um bom dia, na companhia um do outro. Quando apanhámos o comboio, para cada um regressar aos seus destinos, sentei-me à janela a pensar que os domingos são dias curtos e que, quando há despedidas em comboios, ainda são mais curtos...
Para me vingar dessa sensação misturada de inverno, fiz estas bolachas de banana desidratada e uvas passa. São tãoooo boas! O conforto que trouxeram, juntamente com um chá, fez-me ter vontade de criar uma nova tradição para os domingos ao final do dia: fazer bolachas! Por isso, mesmo que haja comboios, despedidas ou domingos maus, passo a fazer bolachas!

Boa semana,
cf