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bolachinhas de banana desidratada e uvas passa |
Nunca gostei dos domingos.
Normalmente, quem me ouve dizer isto, ri-se, acha uma esquisitice e pergunta porquê. Bem, a verdade é que não é desde sempre. Quando eu tinha doze anos, a minha irmã mais velha arrumou as malas e rumou até à universidade. Ao início havia aquela alegria de ficarmos com um quarto maior, mas à medida que as semanas se iam repetindo, deixámos de pensar nisso. A sexta era maravilhosa porque não só significava que até segunda não havia escola, mas também deixava adivinhar um fim de semana em que tudo regressava ao normal.
O almoço de domingo era recheado de coisas boas porque, a meu ver, era a única refeição da semana com um guloseima ( um bolo ou um pudim) para sobremesa. O que comíamos não variava muito entre a carne assada ou estufada, mas era diferente porque à semana não constavam no "menú". Não me consigo recordar se a minha irmã ficava em casa a estudar ou ia dar uma "voltinha" connosco, mas sei que o final da tarde trazia com ele uma angústia a crescer.
Ver a minha irmã subir para o comboio, para voltar à sua rotina universitária, era tão triste. Havia sempre um pedaço de mim que ia com ela. A casa ficava com menos luz, preparávamos a mochila e tínhamos que ir para a cama cedo para regressar às aulas. E, em vez de alegria pelo começo de mais uma semana, havia melancolia.
Quando chegou a minha vez de ir para a universidade, pensei em como se sentiria a minha irmã mais nova ao ver-me partir todos os domingos. Para iludir o dia, torná-lo menos saudoso, comecei a trabalhar num clube de vídeo. Tinha aquela falsa impressão de que se não estivesse em casa, não sentiriam tanto a minha falta quando entrasse no comboio ou, eu própria disfarçaria o sentimento de anos passados.
Durante muitos anos, trabalhei aos fins de semana. Não me incomodava. Mas, ao mesmo tempo afastava-me de poder estar com os amigos que tinham sempre folga aos fins de semana. Então, voltei a querer ter sábados e domingos!
Ontem, fui passear com o N. Um verdadeiro passeio de domingo. Passámos o dia cheios de sono por acordar tão cedo, mas resistimos à chuva, ao frio e ao vento, por um bom dia, na companhia um do outro. Quando apanhámos o comboio, para cada um regressar aos seus destinos, sentei-me à janela a pensar que os domingos são dias curtos e que, quando há despedidas em comboios, ainda são mais curtos...
Para me vingar dessa sensação misturada de inverno, fiz estas bolachas de banana desidratada e uvas passa. São tãoooo boas! O conforto que trouxeram, juntamente com um chá, fez-me ter vontade de criar uma nova tradição para os domingos ao final do dia: fazer bolachas! Por isso, mesmo que haja comboios, despedidas ou domingos maus, passo a fazer bolachas!
Boa semana,
cf